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Acusações de Meghan Markle contra monarquia dividem opinião no Reino Unido
O silêncio do Palácio de Buckingham sobre a entrevista concedida pela Duquesa de Sussex, a atriz americana Meghan Markle, mulher do príncipe Harry, à apresentadora Oprah Winfrey, é revelador. A história contada pelo casal no último domingo (7) expôs como há muito não se via a realeza britânica. Como tudo o que envolve a família real, as declarações do casal se tornaram alvo de debate apaixonado. Todo mundo parece ter uma opinião.
Na entrevista mais esperada dos últimos tempos, Meghan fez acusações graves de preconceito e racismo, diz que pensou em suicídio e que foi abandonada pela instituição, como chama a estrutura por trás da família real. Era uma estrangeira expondo para os súditos da rainha Elizabeth II e para o resto do mundo que a realidade na corte estava longe de ser o conto de fadas que todos imaginam. Causou a empatia de alguns e a revolta de outros. Comentaristas trataram de analisar o episódio que abalava a corte, um ano depois de o casal de afastar dos afazeres reais e se mudar para Los Angeles. Há quem defenda a reação de Meghan. Mas há também aqueles que a acusam de querer se manter na mídia e de só contar a sua versão da história.
Alguns fizeram uma lista com a checagem de fatos citados por Meghan. Ela contou que se casou com Harry, em segredo, três dias antes da grandiosa cerimônia assistida por quase dois bilhões de telespectadores mundo afora, em maio de 2018. Uma repórter insistiu que o casamento legal só teria acontecido mesmo na data conhecida. Outro comentarista destaca que Meghan sempre foi geniosa e a falta de proximidade com integrantes da sua família, que não estavam no casamento, era prova disso.
O fato é que a entrevista, transmitida no Reino Unido no Dia Internacional da Mulher devido à diferença de fuso horário, expôs, mais uma vez, as dificuldades da monarquia de aceitar estranhas no ninho. O país acabou confrontado com a memória de pelo três mulheres que sofreram na pele a imposição das regras rígidas da casa real, a obrigação de não deixar a vida pessoal contaminar a imagem pública e de sofrer em silêncio. Todas foram alvos de críticas duríssimas.
A princesa Diana, mãe de Harry, morreu em um acidente de carro em Paris após ser perseguida por paparazzis. Sarah Ferguson, ex-mulher do príncipe Andrew, filho da rainha, foi muito criticada por manter um romance com seu assessor financeiro Johny Bryan antes da conclusão do divórcio com Andrew. Décadas atrás, Wallis Simpson, uma americana divorciada, também abalou a monarquia britânica. Por ela, o rei Eduardo VIII, tio-avô de Harry, abdicou do trono em 1936 e foi viver no exílio.
Harry disse que seu maior medo era que “a história se repetisse”. Ele culpa a cultura midiática britânica pela morte da mãe. Meghan disse se sentir sozinha no tempo em que viveu sob as asas da família real. “Eu estava em toda a parte (na mídia), mas não ia a lugar algum”, relatou, destacando que passou meses sem poder sair de casa por conta da exposição.
Especialista vê impacto na família real
À RFI, a especialista Pauline Maclaran, coautora do livro “Royal fever: the british monarchy in consumer culture” (Febre real: a monarquia britânica na cultura de consumo, em tradução livre, publicado em 2015) diz que a entrevista foi muito ruim para a imagem da corte. O silêncio no Palácio de Buckingham, que ainda não se manifestou sobre as declarações de Meghan, é revelador. Só confirma o impacto da notícia sobre a Casa Real.
Para Maclaran, as acusações de racismo, o fato de um membro da família ter se preocupado com a cor que teria o bebê do casal e a deterioração da relação entre Harry e o pai, o príncipe Charles – o próximo na linha sucessória – criam desconfiança sobre a capacidade da monarquia de se adequar ao século XXI. Nos últimos anos, a casa real tem tentado se adaptar aos novos tempos. O próprio Charles tem a intenção de reduzir a burocracia da monarquia à família imediata, o que, segundo Maclaran, deve ajudar a conter as críticas sobre a vida de luxo da coroa.
A população não tem muita simpatia por Meghan: 53% dos britânicos a veem de maneira negativa. Mas o casal ganhou popularidade desde que resolveu conceder a entrevista. Tudo isso acontece enquanto o príncipe Philip, marido da rainha, continua internado depois de uma cirurgia cardíaca. Ele tem 99 anos.
A monarquia tem altos e baixos, a depender dos escândalos que extrapolam os muros do palácio. O divórcio de Charles e Diana na década de 1990 e os rumores de traição por parte do príncipe, que acabou se casando com Camila Parker-Bowles, sua paixão desde a juventude, fizeram com que perdesse a boa vontade do público.
Muitos se perguntam qual é de fato o papel da família real nos novos tempos. Será cada vez mais difícil explicá-lo, sobretudo num mundo que enfrenta uma crise econômica sem precedentes e levará tempo para se recuperar.
Fonte: G1