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Mensagens de áudio comprometem Padre Robson em teia de crimes
Na noite deste domingo (21), uma reportagem do “Fantástico” revelou áudios apreendidos em agosto do ano passado, em investigação que apura crimes cometidos pelo padre Robson de Oliveira, da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade. Segundo o Ministério Público de Goiás (MP-GO), apropriação indébita, falsificação de documentos, organização criminosa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal seriam as infrações praticadas por associações criadas pelo sacerdote.
Em outubro, o Tribunal de Justiça de Goiás decidiu trancar a inquirição, mas agora, de acordo com o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, há motivos para que a mesma seja retomada. Isso porque as mensagens divulgadas pela reportagem apresentam novos delitos cometidos pelo religioso, que teria gasto milhões de reais da Igreja para se livrar de uma sequência de extorsões que sofreu nos últimos anos.
A primeira delas partiu de um hacker, em 2017, ocasião em que Robson pagou cerca de R$ 2,9 milhões – com dinheiro da Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe), a qual presidia – para não ter imagens e troca de mensagens pessoais vazadas na internet. De acordo com o processo judicial, o padre teria vivido um romance com o próprio hacker. Já o segundo caso, envolve o jornalista Tayrone di Martino, ex-vereador em Goiânia, e marido de Talitta, funcionária da Afipe.
O motivo? Um suposto caso amoroso entre Talitta e o sacerdote, que teria levado Tayrone a chantagear Robson e pedir um valor de R$ 350 mil. O montante foi justificado legalmente em contrato como honorários devidos para uma biografia do padre. Entretanto, em áudio enviado à colega de trabalho, o religioso admite que foi extorquido: “Você acha que eu ia dar R$ 350 mil pra um servicinho daquele de biografia da minha vida? Aquilo foi extorsão, Talita. Extorsão pura”.
O “Fantástico” também mostrou registros de conversas entre Robson e a então delegada de Trindade, Renata Viera, que foi afastada do cargo na última semana e está sob investigação da Secretaria de Segurança Pública de Goiás. O sacerdote contou com ajuda da amiga para abafar um terceiro episódio, envolvendo Ubiracimar dos Santos (Bira), marido de uma jornalista que sabia dos golpes do padre.
Aos risos, o padre avisou Talita que tentaria extrair informações de Bira e, caso fosse necessário, tomaria medidas extremas: “Eu vou tentar usar dos meios que conheço para persuadi-lo a me dizer realmente se o que ele tem [sobre mim] é algo interessante. Eu vou levar um policial e uma pessoa armada pra me proteger, a gente vai fazer isso tudo fora do padrão legal. Nós vamos dar um chega nesse caboclo lá, mas vai ser na base do ‘faroeste caboclo’”.
“É um caso extremo, né? Se for preciso criar uma história em cima disso aí, você tá junto comigo. Você me libera dessa situação se acontecer o extremo ali”, pediu ainda, se referindo a um possível assassinato. O encontro com Bira foi gravado pelo próprio sacerdote, que antes, combinou um código com dois capangas: “Não tem jeito”. Se Robson dissesse isso, ambos rapazes poderiam entrar na sala e render Ubiracimar. “Pode chegar e grampear ele, nós não vamos chamar a polícia, vamos resolver o negócio aqui”, declarou o padre.
Tais ‘métodos’, entretanto, não foram necessários. Santos pediu R$ 500 mil ao padre, que fez uma contraproposta de R$ 200 mil e ambos se despediram. “Anota meu celular aí, você vai pensar esse valor melhor”, encerrou Robson.
Em outro trecho exibido pela reportagem, o padre aparece discutindo com o advogado Luís Barbosa sobre a situação de um outro advogado, Anderson Reiner Fernandes, que teria virado seu desafeto. “Se você pudesse matar ele pra mim, eu achava uma bênção. Acaba com esse cara, bicho. Isso aí só vai atrapalhar nossa vida. Para mim, até hoje, foi um atraso”, declarou. Em mais mensagens divulgadas, Robson também ordena a uma funcionária da Afipe que “troque ou queime o HD” de computadores da associação.
Relembre o caso
No final de agosto, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) pediu a prisão de Robson de Oliveira Pereira – um dos padres mais populares do Brasil e reitor do Santuário Basílica de Trindade – mediante apuração de irregularidades na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), presidida pelo católico.
Uma das peças de investigação do MP é a construção da nova Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, iniciada em 2012 e até hoje, não concluída. A obra é financiada por contribuições de fiéis, mas há suspeita de que as doações estejam sendo usadas para adquirir imóveis milionários, dentre eles uma fazenda em Abadiânia, por R$ 6 milhões, uma casa de praia e um avião, ambos avaliados em R$ 2 milhões cada, com a colaboração de laranjas, em um suposto esquema de lavagem de dinheiro.
Segundo o Ministério Público, a detenção era necessária porque o padre, “há vários anos“, estaria se apropriando de recursos da Afipe e “promovendo a transferência de bens desta para terceiros“. Além da prisão, os promotores pleitearam também que Robson fosse afastado do cargo de diretor da associação e proibido de entrar nos imóveis da entidade.
Fora a Afipe, o católico criou mais duas outras associações. Entre 2008 e 2018, as três movimentaram mais de 2 bilhões de reais, de acordo com levantamento feito pelo Grupo de Combate à Corrupção do Ministério Público de Goiás (Gaeco). Com a “Operação Vendilhões”, cinco possíveis crimes também foram investigados: apropriação indébita, falsificação de documentos, organização criminosa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
Acatando o pedido do MP, promotores e autoridades policiais cumpriram 16 mandados de busca em imóveis de Goiânia, Trindade e São Paulo, dentre eles, propriedades de luxo vinculadas ao padre Robson e à Afipe. O líder religioso acompanhou presencialmente o trabalho dos investigadores em sua casa.
Em 6 de outubro de 2020, o Tribunal de Justiça de Goiás inocentou o padre Robson de Oliveira Pereira após acusações de lavagem de dinheiro. De acordo com o Correio Braziliense, a decisão pelo habeas corpus foi unânime, em um julgamento que durou apenas quarenta minutos. O voto do desembargador Nicomedes Domingos Borges – relator do processo – foi acompanhado por outros quatro magistrados da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, em Goiânia. Na prática, isso implicou na suspensão da tramitação do processo contra o sacerdote.
Com os áudios comprometedores e as novas informações divulgadas pela imprensa, a investigação pode ser retomada.
Fonte: HugoGloss