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Pitty celebra sua participação no Carnaval de Salvador: “era algo até pouco tempo atrás inimaginável”
Pitty subiu no trio elétrico neste Carnaval. A cantora foi uma das convidadas para o bloco Respeita as Mina e a baiana falou sobre este momento inesquecível da carreira. Em um texto compartilhado em seu blog nesta quinta-feira (15/2) a cantora disse que precisava colocar no papel o que sentiu ao ter participado da folia.
“Fiquei muito honrada com o convite. Fazer parte da maior festa da minha cidade natal dessa forma era algo até pouco tempo atrás inimaginável. Sempre acreditei na diversão política. Para mim uma coisa não exclui a outra, pelo contrário. Quando se junta energia artística e criativa com posicionamento, a coisa se potencializa. Tudo é política – e não estou falando de política partidária. Viver e se divertir é um ato político. Tinha um pessoal que não curtia muito quando eu entoava que “hardcore é diversão” na década de 90, mas desde lá eu já dizia, citando outro verso do Inkoma, ‘diversão & conscientização”; sim, por quê não?’”, escreveu sobre o posicionamento do bloco.
“A ideia era levar para as ruas o diálogo e o enfrentamento à violência contra a mulher. A proposta é, no meio da folia, fortalecer a questão dos direitos das mulheres e consolidar o pensamento de que os tempos são outros, e já não cabe aceitar nem ser conivente com abusos, assédios e todos os tipos de violências”, disse.
“Rapaz, e me baixou um encosto de chacrete que rebolei como se não houvesse amanhã. Aquele samba duro e desengonçado, mas de coração, rs. Teve ideia cheque, teve brincadeira, teve amor, teve protesto, teve quadril solto. Teve um monte de coisa. Acabamos ficando quase sete horas direto ali em cima”, celebrou. “Eu vi todxs vcs lá de cima, e nunca vou esquecer essa cena”, comemorou.
Leia o texto na íntegra a seguir:
https://www.instagram.com/p/BfKK9gfFeax/?utm_source=ig_embed
“ai, ai, ai. sei nem por onde começar.
muitas emoções, sentimentos, dúvidas, questionamentos; misturados e empapados com purpurina, suor e sombra preta. lá fui eu cantar no trio elétrico, no Carnaval de Salvador.
essa relação tão cheia de nuances, de encontros e desencontros, tão primal por ser raiz- pai, mãe e coração- se localiza totalmente para além da racionalidade. faz parte do subjetivo e do inconsciente, e tem muito mais contido nesse simples momento do que o momento. tem uma vida inteira de busca por identidade, por espaço, por respeito. por existir. é a existência através da resistência.
começo por aí então. todo mundo sacou que o Carnaval de Salvador vem se modificando nos últimos anos. vou me abster de análises sócio-econômicas, mas fato é que a demanda das ruas por um carnaval mais democrático e sem cordas foi ganhando cada vez mais força e acabou por mexer com o modelo de negócio e o sistema antigo, fazendo inclusive com que nomes tradicionais da festa fizessem parte dessa nova onda. esse papo é muito antigo… me lembro de uma conversa há dez anos atrás com um grande nome da música baiana, onde justamente eu tentava explicar porquê não conseguia fazer parte daquela segregação esquisita de ricos e brancos dentro, pretos e pobres fora (da corda, e depois dos camarotes, no caso)
coisa complexa, caso para mais alguns textos e reflexões, outra hora.
quero focar nesse ano. na oportunidade de fazer parte dessa festa sendo quem sou, interagindo com pessoas diferentes de mim que também são quem são, e dançam do jeito que dançam, e se vestem do jeito que se vestem. quero focar no respeito às diferenças.
o convite lindo veio para fazer parte de um trio chamado Respeita As Mina, comandado por Larissa Luz, junto com Karina Buhr. a ideia era levar para as ruas o diálogo e o enfrentamento à violência contra a mulher. a proposta é, no meio da folia, fortalecer a questão dos direitos das mulheres e consolidar o pensamento de que os tempos são outros, e já não cabe aceitar nem ser conivente com abusos, assédios e todos os tipos de violências.
fiquei muito honrada com o convite. fazer parte da maior festa da minha cidade natal dessa forma era algo até pouco tempo atrás inimaginável. sempre acreditei na diversão política. para mim uma coisa não exclui a outra, pelo contrário. quando se junta energia artística e criativa com posicionamento, a coisa se potencializa. tudo é política- e não estou falando de política partidária. viver e se divertir é um ato político. tinha um pessoal que não curtia muito quando eu entoava que “hardcore é diversão” na década de 90, mas desde lá eu já dizia, citando outro verso do Inkoma, “diversão & conscientização”; sim, por quê não?
e foi guerrilha, viu? tá pensando que é moleza fazer um negócio desse? né não, pae.
conversando com Lari antes, pensamos nessa imagem da guerrilheira urbana para a parte estética e os figurinos; eu viajei nas amazonas, nas vikings, nas feiticeiras, todo tipo de poder sagrado feminino. nas iabás. nas guerreiras. e nas mulheres que andam na rua sozinhas, e pegam ônibus, e precisam de mobilidade, conforto e segurança. rapaz, e me baixou um encosto de chacrete que rebolei como se não houvesse amanhã. aquele samba duro e desengonçado, mas de coração, rs.
teve ideia cheque, teve brincadeira, teve amor, teve protesto, teve quadril solto. teve um monte de coisa.
acabamos ficando quase sete horas direto ali em cima. trio elétrico é uma ilha de som cercada de gente por todos os lados; você sabe a hora que sobe, mas não sabe a hora que desce. e outra coisa é que carnaval é guerra de soundsystem. quem vem atrás, se tem som mais potente, empurra o da frente, e por aí vai. quem tem mais som ganha, e a nota mental para uma possível experiência no futuro é: vir com mais som, mais boca de grave, mais tudo.
obrigada Nanda e todo pessoal da Maré; obrigada Larissa Luz pelo convite- te olhar no olho num palco me potencializa, mana. Karina Buhr, que delícia dividir com você as dores e as delícias de um carnaval guerrilha, minha irmã.
a todos os homens que nos apoiaram, acompanharam o trajeto e fortaleceram nossa festa e luta.
e principalmente a todas as mulheres, nascidas assim ou não, que se juntaram a nós nessa jornada e fizeram valer aquela pipoca linda. estamos juntas.
eu vi todxs vcs lá de cima, e nunca vou esquecer essa cena.
bjs tropigótikos,
P.”
Fonte: Rockline