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Renato Teixeira abraça o sertanejo pop, honra desbravadores do gênero e se diz um funcionário da música

16/12/2016

Destoando da crítica fácil, aquela que de imediato cola um selo de qualidade duvidosa em qualquer coisa que faz um estrondoso sucesso comercial, Renato Teixeira é de uma admirável serenidade ao falar do atual mercado do gênero sertanejo, dominante hoje na indústria da música no Brasil. “Uma das grandes qualidades da música nos últimos tempos foi o fim do preconceito. Você pode gostar e não gostar de música. Mas falar que tem música ruim, isso não existe. Esse é o grande barato da música”, defende.

Ele só faz questão de dar nome aos bois e honrar os pioneiros. “Todo esse movimento sertanejo que está aí hoje e que domina o mercado, se você me pedir pra dizer quem é o cara por trás disso, eu digo Tony Campello (cantor, irmão de Celly Campello e produtor musical que lançou Sérgio Reis na música sertaneja). Sertanejo universitário, brega, ostentação. Ele é um cara que fez duas revoluções: primeiro, a revolução com a Celly e depois quando ele começa a levar para o mercado a música da cultura caipira”, argumenta.

Renato lembra-se também de Cornélio Pires (1884-1958, jornalista e estudioso da cultura caipira). “É a realização do sonho dele. Foi o cara que acreditou nisso. Ele bancou de forma independente discos de música caipira. E, quando aposentou, passou tudo para o sobrinho dele, o Capitão Furtado, que descobriu Tonico e Tinoco, e eles estabeleceram a base da dupla sertaneja, que hoje é uma coisa tão forte”.

Sempre ponderado e com os pés no chão ao falar do fazer musical – dele e dos outros –, Renato usa um episódio vivido ao lado de Elis Regina e César Camargo Mariano para explicar o entendimento que tem de sua condição de artista. Estavam os três num restaurante vazio em Santos (SP) quando um homem bêbado reconheceu Elis e pediu que ela cantasse. A cantora se negou inicialmente, mas não resistiu quando o homem voltou com um violão, insistindo novamente no show particular.

“Eu falei: cante, porque você é uma funcionária da música. Nós somos funcionários da música. Falta um pouco dessa consciência. Estrelismo não é uma coisa boa. Aquela coisa de antigamente, do Tim (Maia) e do Raul (Seixas), de não cumprir com certos compromissos, esse tempo passou. A eficiência é muito importante na música, e, pra ser eficiente, é preciso ser funcionário”, teoriza.

A maneira racional e sem vaidades com que enxerga seu ofício se contrapõe também a um coro recorrente nos dias de hoje entre compositores, segundo os quais o streaming deixa o autor da música fora de foco, praticamente esquecido. “Compositor não deve se ligar nisso. Se o público não quer saber quem somos, fazer o quê? O rádio sempre tocou música e nunca falou o nome do autor. Os compositores precisam entender uma coisa: nós somos vocacionados, igual padre. A gente precisa do retiro, da concentração. Nosso trabalho é silencioso. Nós não somos donos da música, a música é dona de nós”.

BATE-BOLA COM RENATO TEIXEIRA

Uma cantora
Elis Regina

Um cantor
Milton Nascimento

Uma música que gostaria de ter composto
“Todas as músicas do Milton Nascimento”

“Romaria” ou “Tocando em Frente”?
“As duas”

E qual é mais popular em meio ao púbico, “Romaria” ou “Tocando em Frente”?
“Acho que dá um empate”

Um livro
“O meu livro eterno, que me acompanha por toda a vida, é ‘Dom Quixote’. Estou lendo agora ‘Frutos da Terra’ (do norueguês Knut Hamsun). Também gosto muito de biografia. Acabei de ler o livro do André Midani (‘Do Vinil ao Download’). Acho fundamental pra quem tem interesse pelo negócio da música”

FONTE E  FOTO: O TEMPO

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